Indústria da música enfrenta a ascensão da IA: ameaça ou oportunidade?

O novo vilão ou o próximo herói?

A inteligência artificial vem impactando diversas indústrias criativas, e a música não está imune a essa transformação. O setor fonográfico, há muito visto como vilão por artistas e fãs, agora se vê em uma posição inesperada: a de protagonista na luta contra o uso não autorizado de obras protegidas por direitos autorais por parte de empresas de IA. Nesse cenário, gravadoras ganham novo fôlego ao recorrer à legislação de direitos autorais e a um sistema de licenciamento consolidado, tentando conter a onda de conteúdos gerados por IA sem consentimento.

Lições do passado e o fantasma do Napster

Historicamente, o que acontece com a indústria da música tende a se repetir em outras áreas criativas. O caso do Napster no início dos anos 2000 é um exemplo claro: o compartilhamento ilegal de músicas forçou a criação de novos modelos de distribuição digital. Agora, as gravadoras esperam que seu embasamento jurídico e sua experiência em batalhas contra pirataria sirvam como escudo contra empresas de IA como Suno e Udio, acusadas de treinar seus modelos com obras protegidas sem permissão.

Ferramentas que empoderam criadores

Apesar das tensões, a tecnologia de IA também tem oferecido oportunidades promissoras para músicos independentes. Um exemplo é o cantor D4vd, que gravou seu sucesso “Romantic Homicide” no armário da irmã usando o BandLab, aplicativo que incorpora funcionalidades de IA e permite criar músicas sem precisar de um estúdio profissional. Segundo Kuok Meng Ru, CEO da empresa responsável pelo app, a ideia é democratizar o acesso à produção musical no mundo todo, permitindo que qualquer um grave, compartilhe e monetize suas músicas.

IA: aliada ou substituta da criatividade?

Enquanto plataformas como Suno e Udio buscam automatizar completamente a criação musical, outras empresas adotam uma abordagem mais colaborativa. A Output, por exemplo, lançou o Co-Producer, um plugin que utiliza IA para sugerir amostras sonoras compatíveis com um projeto musical já em andamento. A ferramenta analisa o conteúdo musical e, com base em comandos de texto fornecidos pelo usuário, propõe sons que se encaixam harmonicamente à composição, tornando a busca por samples mais eficiente.

Esse tipo de ferramenta não busca substituir a criatividade humana, mas sim otimizá-la, oferecendo novas possibilidades e economizando tempo em tarefas repetitivas como seleção de samples, mixagem e masterização. Essa tendência reflete o crescimento do uso de samples na música popular, impulsionado por bibliotecas como Splice, que tornaram o acesso a sons de alta qualidade mais democrático e acessível.

Organização e descoberta: os grandes trunfos da IA

Embora existam soluções que usam IA generativa para criar samples do zero, como o recém-lançado Illugen da Waves, o foco atual do mercado está na organização e curadoria de sons. A enorme quantidade de arquivos disponíveis hoje — sejam de bibliotecas, serviços por assinatura ou acervos próprios — torna a tarefa de encontrar o som ideal um verdadeiro desafio. É nesse contexto que ferramentas como o Co-Producer se destacam: com o auxílio de IA, o produtor moderno pode economizar tempo e encontrar rapidamente os elementos perfeitos para sua faixa.

Entre o futuro e a tradição

A convergência entre IA e música segue em ritmo acelerado. De um lado, a indústria tenta proteger seus ativos e seus artistas contra o uso indevido de obras; do outro, surgem ferramentas inovadoras que prometem democratizar a criação musical e facilitar processos técnicos. A grande questão que permanece é: será possível encontrar um equilíbrio em que a IA seja uma aliada da criatividade sem comprometer os direitos autorais e a originalidade artística?

Assim como aconteceu com o Napster, o setor musical pode novamente servir como laboratório para entender os impactos da tecnologia sobre o trabalho criativo — e como regulá-los. A batalha está apenas começando.