Álbum da Semana: The Weather Station | Humanhood

Humanhood, o álbum mais impactante já produzido por Tamara Lindeman sob o pseudônimo The Weather Station, nasceu de um dos períodos mais difíceis de sua vida. Escritas durante uma fase de crise emocional, as músicas ganharam forma com o auxílio de uma banda de rock com forte inclinação para improvisação, justo no momento em que Lindeman começava a encontrar sua recuperação. A narrativa do álbum reflete uma verdade profunda: às vezes, a vida nos desestrutura, independentemente de quão bem tudo pareça estar, e aceitar isso pode ser a chave para sobreviver.

De fora, 2022 parecia um ano de glória para Lindeman. Seu álbum anterior, Ignorance, foi amplamente aclamado pela crítica, figurando entre os melhores lançamentos do ano. Foi um período repleto de turnês, viagens e ativismo, acompanhado pelo álbum complementar, How Is It That I Should Look at the Stars, que trouxe uma abordagem mais minimalista. No entanto, em meio ao auge de sua carreira, Lindeman enfrentava uma crise de saúde mental. Durante essa fase de incertezas e buscas por sentido, ela compôs as canções que se tornariam Humanhood, um álbum narrativo que traça o caminho de sua jornada, do distanciamento emocional até a reconexão.

Produção Colaborativa e Atmosfera Única

Humanhood foi gravado em duas sessões no outono de 2023, no estúdio Canterbury Music Company. Ao lado de Lindeman estavam o baterista Kieran Adams, o tecladista Ben Boye, o percussionista Philippe Melanson, a multi-instrumentista Karen Ng (sopros) e o baixista Ben Whiteley. As músicas foram intencionalmente mantidas abertas, permitindo que os músicos reagissem de forma espontânea às ideias e esboços apresentados por Lindeman. A co-produção, liderada por Marcus Paquin, buscava capturar a energia dos encontros criativos em tempo real, resultando em uma sonoridade que transforma a sensação de inquietação — tão característica de nosso tempo — em algo tangível.

Amigos de longa data também contribuíram com suas marcas no projeto. Entre eles, destacam-se Sam Amidon, com seu toque tradicional, o guitarrista James Elkington e o mestre das texturas Joseph Shabason. O mixer Joseph Lorge desempenhou um papel essencial na fase final, organizando a complexa teia musical em uma obra quase contínua. As faixas são entrelaçadas com instrumentais intercalados que fluem de uma música para outra, criando um efeito dinâmico. Texturas alternam entre o orgânico e o sintético — sintetizadores misturam-se com saxofones, baterias eletrônicas dão espaço a banjos, e as músicas se formam e se desintegram, ecoando as experiências emocionais que as inspiraram.

Reflexão e Urgência Contemporânea

Grande parte de Humanhood é um retrato comovente e honesto do que significa estar perdido. Ele explora a confusão, o desconforto e o luto, vividos por um período tão longo que parece não ter fim. Assim como em Ignorance, as letras em primeira pessoa de Lindeman transcendem o pessoal, tocando questões universais. Todos estamos enfrentando crises internas em meio a desastres climáticos e um mundo à beira do colapso — uma realidade que não oferece precedentes ou respostas fáceis.

Nos álbuns anteriores, Lindeman costumava escrever sobre seu passado, buscando perspectiva ao revisitar memórias. Em Humanhood, no entanto, ela se dedicou a traduzir os sentimentos do presente enquanto os vivenciava. Essa abordagem confere ao álbum uma urgência palpável e transforma suas músicas em um ponto de conexão para aqueles que se sentem desconectados da vertiginosa realidade atual.

Humanhood, portanto, emerge não apenas como uma obra artística, mas como uma âncora emocional. Tamara Lindeman oferece essa coleção de canções como um fio condutor para quem, assim como ela, tenta encontrar sentido e conexão em tempos tão incertos.

Faixas:

  1. Descent – 01:00
  2. Neon Signs – 05:07
  3. Mirror – 04:56
  4. Window – 02:41
  5. Passage – 00:48
  6. Body Moves – 03:27
  7. Ribbon – 03:18
  8. Fleuve – 01:10
  9. Humanhood – 04:11
  10. Irreversible Damage – 05:36
  11. Lonely – 03:15